O mercado B2B vive uma transformação estrutural. O que antes eram três engrenagens isoladas – Marketing, Vendas e Customer Success – agora precisa atuar em sincronia total para sustentar um crescimento verdadeiramente previsível. Essa mudança deu origem a uma disciplina que deixou de ser tendência para se tornar o novo alicerce das operações comerciais modernas: RevOps (Revenue Operations).
No Episódio 19 do Roda da Prospecção, gravado diretamente da Arena Podcast do CRM Zummit 2025, três das maiores referências em estratégia e previsibilidade discutiram o futuro das operações: Aaron Ross (criador da consagrada metodologia de vendas, Receita Previsível), Amanda Alves (fundadora da Revenue Thinkers) e Thiago Muniz (CEO da Receita Previsível no Brasil).
A conversa percorreu desde a revolução analítica até os desafios culturais que impedem empresas de destravarem receita. Paralelamente, o Panorama Brasileiro de RevOps 2025 reforça, com dados, a urgência dessa transformação: falta maturidade, governança, clareza e – sobretudo – cultura.
Este artigo sintetiza esses aprendizados, aprofunda seus conceitos e apresenta o caminho para estruturar uma operação de RevOps adaptada aos novos tempos.
O que é RevOps e por que ele se tornou indispensável
RevOps não é um modismo. Ele surgiu como resposta a problemas históricos nas organizações: silos entre áreas, KPIs desalinhados, falhas de comunicação, baixa qualidade de dados e processos desconectados da jornada real do cliente.
A digitalização intensificou esses desafios. A explosão de CRMs, ferramentas de BI e fluxos automatizados trouxe eficiência, mas também aumentou a complexidade operacional, principalmente quando times continuam trabalhando de forma fragmentada.
De acordo com o Panorama Brasileiro de RevOps 2025, 76% das empresas afirmam operar com algum nível de integração entre áreas, mas a maioria ainda não institucionalizou RevOps como disciplina.
RevOps se tornou indispensável porque é o único mecanismo capaz de:
- alinhar dados, sistemas e equipes;
- estruturar processos que reduzem atritos;
- criar uma visão única da jornada do cliente;
- sustentar crescimento previsível sem aumentar complexidade operacional.
Como afirmou Amanda Alves, RevOps não busca controle total, algo impossível no mundo hiperconectado, mas sim clareza sobre o que realmente acontece na operação, o que permite corrigir, otimizar e evoluir.
A IA e o futuro das operações de receita: como Aaron Ross enxerga o impacto real da tecnologia
A discussão sobre IA é inevitável. Mas ela é, por vezes, distorcida.
Segundo Aaron Ross, a IA é empolgante, mas não vai “salvar a sua empresa”. Ela não substitui fundamentos, e não substitui pessoas.
Em suas palavras, o valor real da IA está em amplificar a capacidade humana, e não em criar agentes totalmente autônomos.
Entre os alertas de Aaron, podemos destacar:
- A IA não elimina ruídos, apenas os torna mais visíveis.
- A IA não resolve problemas estratégicos, apenas acelera a execução.
- A IA frequentemente aumenta o FOMO (Fear Of Missing Out) – o medo de ficar para trás.
- A obsessão por ferramentas leva empresas a desperdiçarem energia em hype, não em resultados.
- O maior risco não é “não usar IA”, e sim usar tudo ao mesmo tempo sem critério.
O ponto central da visão de Aaron Ross é simples e poderoso:
→ “A IA acelera pessoas, não processos isolados.”
Ela permite:
- encurtar ciclos de aprendizado;
- corrigir comportamentos de forma mais ágil;
- oferecer feedback em tempo real;
- aumentar consistência de execução.
Mas não substitui decisões, não define ICP e não cria estratégia. Tudo isso continua – e continuará – sendo humano.
Competências acima de cargos: a provocação de Thiago Muniz
O mercado costuma perguntar “qual é o cargo do RevOps?”. Mas, como reforçou Thiago Muniz, essa não é a pergunta certa.
Operar RevOps em empresas SaaS é completamente diferente de operar em varejo, indústria, óleo e gás ou serviços. Não existe um template universal, o que existe são competências universais:
- pensamento analítico aplicado;
- capacidade de traduzir dados em decisões práticas;
- profundidade na compreensão de ICP;
- maturidade emocional para decisões difíceis;
- domínio cultural da previsibilidade (rituais, alinhamento, disciplina).
Para Thiago Muniz, o maior gargalo não é a falta de ferramentas, é a incapacidade de líderes e times de confiarem nas próprias decisões. Mesmo com mais dados disponíveis, o comportamento decisório continua preso a padrões antigos.
Os dados confirmam essa leitura:
→ 40% das empresas não possuem KPIs claros, mesmo utilizando CRM e BI.
Fonte: Panorama Brasileiro de RevOps 2025
Ou seja: não é falta de tecnologia, é falta de maturidade.
Clareza, não controle: a essência do RevOps
Amanda sintetizou de forma definitiva o espírito do RevOps:
“RevOps não é sobre controlar a operação. É sobre entender profundamente o processo e traduzir dados em clareza.”
RevOps nasce justamente porque controlar tudo se tornou impossível.
Em um ambiente formado por:
- múltiplos sistemas;
- integrações complexas;
- equipes distribuídas;
- volumes crescentes de dados;
- clientes com jornadas não lineares;
o objetivo não pode ser controle total, mas sim governança ativa e inteligência aplicada.
Amanda destacou quatro pilares:
1. Redução de fricção
RevOps simplifica. Remove ruídos. Ajusta processos. Deixa a máquina de receita mais fluida.
2. Governança de dados
Um dos dados mais críticos do Panorama Brasileiro de RevOps 2025:
→ 62% das empresas relatam baixa qualidade de dados.
RevOps trabalha diretamente para elevar o trio integridade, qualidade e integração.
3. Cultura analítica
RevOps vive nos rituais de times, nas análises semanais, na capacidade de questionar, interpretar e decidir.
4. Patrocínio institucional
Sem liderança envolvida, RevOps não prospera. Esse é um dos sinais mais fortes do estudo: a disciplina cresce, mas a institucionalização ainda é baixa.
O impacto real do RevOps em SDRs, BDRs e Closers
Embora muitas vezes não percebam, RevOps está diretamente ligado ao desempenho de quem está na linha de frente.
Amanda apresentou práticas claras, como a implementação dos “Guardiões de Dados”, colaboradores que representam a ponta na governança analítica, garantindo feedback contínuo e conexão entre estratégia e operação.
RevOps melhora o dia a dia de pré-vendas e vendas ao:
- retirar ruídos que drenam energia do time;
- aumentar clareza sobre priorização;
- permitir que SDRs e BDRs foquem no que realmente importa;
- ajudar vendedores a interpretarem seus próprios números;
- criar rituais analíticos que aumentam previsibilidade.
Isso não é teoria. É prática aplicada.
Os maiores desafios das operações de receita no Brasil
O Panorama Brasileiro de RevOps 2025 evidencia os pontos de maior fragilidade nas operações atuais:
1. Sobrecarga operacional crônica
→ 62% dos profissionais não têm tempo para atuar estrategicamente, pois passam o dia “apagando incêndios”.
2. Baixa institucionalização
→ Apenas 25% possuem orçamento próprio para RevOps.
3. Stack tecnológico imaturo
Planilha + CRM + BI ainda predominam, mas sem integração robusta.
4. Falhas críticas entre sistemas
→ 34% enfrentam falhas de integração, causando perdas e retrabalho.
5. Carreira desestruturada
→ 63% não têm plano de carreira em RevOps: sinal de disciplina jovem, porém estratégica.
Esses dados confirmam: RevOps não é apenas técnica, é cultura, estrutura e maturidade.
O futuro do RevOps: expansão, dados em tempo real e volta aos fundamentos
Segundo Amanda, o futuro do RevOps deve seguir três direções:
1. Expansão setorial
RevOps deixa de ser exclusividade de SaaS e consultorias, chegando a fintechs, healthtechs e indústrias.
2. Monitoramento em tempo real
A próxima fronteira está na capacidade de acompanhar a saúde do cliente (health score) com dados operacionais e de produto integrados.
3. Retorno aos fundamentos
Apesar do crescimento da IA, as empresas precisarão voltar ao básico: processos sólidos, governança de dados e cultura consistente.
Como disse Amanda, os fundamentos são perenes.
Como começar uma operação de RevOps do zero
Integrando os insights do episódio e do Panorama, o caminho inicial é claro e pragmático:
1. Defina uma liderança clara para RevOps
Mesmo que seja uma única pessoa, alguém com autonomia e influência.
2. Construa clareza sobre ICP, processos e jornada
Sem clareza, não existe previsibilidade.
3. Priorize cultura antes de tecnologia
Como afirmam os três convidados: cultura é o verdadeiro diferencial competitivo.
4. Arrume o essencial antes do avançado
Nada de dashboards sofisticados antes de resolver problemas de base.
5. Gere pequenas vitórias rápidas
Reduzir ruído imediatamente aumenta adesão e acelera maturidade.
#DICA BÔNUS
Assista a íntegra do episódio 19 sobre RevOps no podcast Roda da Prospecção, com a participação especial de Aaron Ross:
Perguntas frequentes sobre RevOps
1. O que é RevOps na prática?
É a disciplina que integra Marketing, Vendas e Customer Success para criar previsibilidade e eficiência na geração de receita. RevOps atua sobre processos, dados, sistemas e pessoas para eliminar ruídos e alinhar toda a jornada do cliente.
2. RevOps substitui Sales Ops ou Marketing Ops?
Não. Ele unifica e orquestra. Enquanto cada Ops cuida da sua área, RevOps cria o sistema único de receita que conecta todas elas.
3. Qual o impacto da IA em RevOps hoje?
Segundo Aaron Ross, a IA não substitui pessoas, mas acelera o aprendizado, corrige erros em tempo real e amplifica a capacidade da equipe.
4. Como saber se minha empresa está pronta para RevOps?
Procure sinais como: falhas de integração, baixa qualidade de dados, ruído entre áreas, falta de previsibilidade e sobrecarga operacional. Esses sintomas indicam maturidade insuficiente e a necessidade urgente de RevOps.
5. Por onde começar RevOps em uma empresa pequena?
Com uma liderança clara, mapear ICP, estabelecer processos mínimos e começar a reduzir fricção onde dói mais.
6. Existe algum diagnóstico oficial para medir maturidade em RevOps?
Sim. O índice citado por Amanda, durante o podcast Roda da Prospecção, está disponível em https://revopsmaturity.com/
